Em um Brasil que luta pelo empoderamento
feminino, um dia, brincando com o Pedro, ouço o seguinte diálogo entre marido e
mulher: -Bem 10: Barbie, vou salvar o
mundo agora! -Barbie: Tá bom. Mas antes
passe na padaria e traga leite e pão. E não esquece de buscar as crianças na
escola!
Você tem milhares de panelinhas, fogãozinho, roupinhas de boneca,
tábua de passar, etc. E como você brinca? Panelinhas e fogãozinho pertencem ao
seu restaurante, no qual o atendimento é ótimo. Eu garanto. Sou cliente fiel.
Roupinhas de boneca são vendidas por um bom preço na sua loja de roupas e a
tábua de passar serve para separar os departamentos. Sou cliente da sua
boutique também.
Você é a única menina por aqui, então só tem como você brincar com os
meninos. E você não aceita que lhe tratem como desigual. Brinca desde casinha,
passando por truco, e até de futebol. Até pouco tempo, o seu uniforme de final
de semana era vestido de princesa e pés descalços. Como amo esses seus pesinhos
pretos de sujo e o cabelinho grudado na cabeça de tanto suor, de tanto brincar
lá fora.
Sábado estava com uma dor de dente muito forte. Você me trouxe água, tomei
um remédio e fui deitar. Você deitou do meu lado, segurou a minha mão e ficou
abraçadinha comigo até sentir que tinha melhorado. Saiu da cama e disse que ia
lá fora jogar bola um pouco com os meninos. Mais tarde, chegou com um batom de
chocolate na mão e me ofereceu a metade. Não aceitei, mas achei a coisa mais
linda do mundo.
Você esta louca pra aprender inglês. Eu disse que não tenho dinheiro
agora. E após duas tentativas frustradas em que trouxe panfletos que davam
descontos, decidiu aprender sozinha. Coloca no youtube músicas em inglês com
legenda e fica treinando sozinha. Sinceramente? Tenho inveja de toda a sua
força de vontade.
Em um mundo onde o bulling é um assunto em pauta, tentaram fazer
bulling com você na escola. Com muito humor e às vezes um pouco de braveza,
você se safou de todos. Quando tentaram colocar apelidos, com deboche, você
criava outros, ou até mesmo eu te ensinava alguns. Todos riam e o apelido não pegava.
Te chamam de baixinha? E daí? Você é mesmo! E isso não é defeito, é charme. Te
chamam de feia? E daí? Você não é mesmo! Tentaram te agredir? Você é bacana,
mas é brava de nascença. Você faz kung fu e tem primos homens pra treinar os
socos e pontapés. E claro, não leva desaforo pra casa. “Lara, por que brigou de
novo?” “Ué, mãe... Se me batem, a senhora quer que eu faça o quê? Quer que
fique esperando eles terminarem? Não, né?!” E mesmo assim, tem tantos amigos...
E todos querem você por perto. Já perdi as contas de quantos já me pediram pra
você dormir na casa deles. Nunca deixei. Sou cismada e sou ciumenta. Ponto.
Você é empoderada, forte, valente, carinhosa, companheira, bem
humorada... Filha, se neste momento você é uma adulta, por favor, não mude
nada! Você é maravilhosa. E se talvez tenha perdido algumas dessas qualidades,
releia todos os relatos que já escrevi até hoje e que provavelmente ainda
escreverei, e recupere dentro de você essa menina especial que tenho a honra de
ser mãe.
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