Já tem quase um ano de pandemia, nós duas isoladas em casa e eu descubro que você tem 85 anos. Aprendeu bordado e boneca abayomi com o grupo da terceira idade do SESC. Remenda as minhas roupas. Usa a internet para pesquisar receitas e conjuntos de panelas, para aprender como organizar gavetas e a melhor forma de dobrar pijamas. Tá certo que pesquisa também penteados e como fortalecer unhas e hidratar cabelos.
Gostamos das mesmas músicas: eu danço trap/rap e você canta Nina Simone (e este é apenas 1 exemplo). Prefere fazer seus exercícios manuscritos a digitados. Não sabe mexer no computador, perde a paciência com tantos comandos. Não enxerga nada sem os óculos, e, vira e mexe acredito que esta ficando meio surda também.
Você faz o melhor pão do mundo. Sova a massa tagarelando e reclamando como uma boa velhinha. Usa um avental amarelinho e uma colher de pau que já foi da sua avó. E virou minha mãe, porque toda tarde eu faço manha para conseguir que faça Browne pra mim com o dobro de chocolate. Em uma manhã fez uns bolinhos iguais aos que minha mãe fazia pra mim. Manda eu ir dormir porque já esta tarde, xinga quando coloco muito sal na pipoca. Você me chama de “meu nenê”, me abraça e passa a mão no meu cabelo.
Você não entende piada, mas saca na hora um bom deboche ou ironia. Ama all star e cismou de usar um pé do meu (vermelho) e um pé do seu (amarelo) para ir ao otorrino esses dias. Faz lista de compras, e no supermercado compara preços e reclama quando invariavelmente volto com um vaso com planta ou uma plaquinha decorativa.
Você tem medo de borboletas (!!), mas ama a Margaridinha (nome dado a nossa lagartixa de estimação) e grita comigo se mato uma formiga. Já se irritou comigo por eu tirar tantas fotos do pôr do sol, mas quando estou distraída e quase perdendo o poente você: “Mãe, não ta esquecendo de nada não?”.
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