
Amo o seu jeito de ver o mundo, Boneca.
O modo como entende, ou não a morte. Como há alguns dias, quando tentaram explicar que a cachorrinha de estimação da Titia tinha morrido e que quem morre não volta mais. Você sempre perguntava no final das explicações: “Mas que dia que ela volta?” E quando você explicou pra gente o que é morte: “Mamãe, o menino engasga com o pirulito e morre. Aí a mamãe leva ao médico e aí ele volta pra casa de ônibus.” Pronto. Entendi quase tudo. Só não entendi o porquê "voltar de ônibus". Seria a sua concepção de Purgatório?
O jeito que você entende o que são pessoas jovens e idosas. Como no dia em que você me explicou que a vovó era "velha" porque tinha dor nas costas. Há se você soubesse que isso não é só privilégio dos idosos... E no dia em que ajudou a vovó a pegar um objeto no chão, justificando que você podia pegar porque sua coluna é boa. E quando você diz que quando você for grande e eu pequena, vai cuidar de mim e arrumar casa e fazer comida... Quando você for grande e eu pequena, Boneca? Você acredita que enquanto cresce eu rejuvenesço? Tomara! Anseio por ver a pessoa grande e maravilhosa que você será.
Amo o jeito como você entende e ensina o que é fidelidade. “Mamãe, o papai é namorado só seu e meu, tá?”. E quando fui te testar mostrando outro moço bonito na TV? Pergunto: “Moço bonito, né amor? Mais bonito que o papai.”, e em seguida vem a resposta: “É sim, Mamãe, mas é com o papai que a senhora casa.” Calei.
E tem muito mais conclusões: Trovão é quando Papai do Céu fica bravo por você ter feito má criação. Polícia também, só prende quem faz má criação (o que não deixa de ter um fundo de verdade). Rosa é de menina, azul é de menino e amarelo é dos dois. E você só chegou a essa conclusão por causa de uma bola amarela que ganhou e gostou tanto. Eu só posso beijar o papai na boca porque sou casada com ele (é a conclusão mais bonitinha). E tantas outras que vou me lembrando aos poucos.
Você me abre os olhos, Princesa. Me ensina tanto...
E eu que achava que a mamãe que ensinava pra filhinha. Que nada! As duas aprendem juntas: Você me abre o seu mundo enquanto eu tento lhe explicar o meu.
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